Meu Cantinho

terça-feira, outubro 06, 2009

História com muita imaginação


História contada por uma criança de 5 anos chamada Davi.

"Um dia o Davi ficou cuidando de um monte de ovelhinhas. Jesus me pediu. (Por que Jesus te pediu isso?) Porque eu sou um menino corajoso e forte e sei cuidar de bichinhos, eu gosto muito de bichinhos. Mas de repente apareceu um demônio e queria comer todas as ovelhinhas , então eu matei o demônio. (Como fizeste isso?) Lutei muito com ele, dei socos e pontapés e ele caiu no chão e morreu. Eu fui para o hospital, estava com pneumonia, fiquei olhando televisão, pulava e corria nos corredores, as mulheres de branco me xingavam (risos). Meu irmão chegou voando (teu irmão voa?), ele era o anjo que veio cuidar de mim e das ovelhinhas que foram dormir porque já estava noite, fechei o portão. Meu avô morreu quando eu nasci. (ele estava doente?) Não ele morreu porque quis morrer. Depois coloquei um tip-top, aquela roupa de bebê, mas meu era grande, mas já estava pequeno em mim. (E aí o que aconteceu?) Fui dormir com a minha mãe e meu pai, quase caí, meu pai se virou e eu rolei na cama, eles me amassaram, tipo um sanduíche. (risos) (E as ovelhimhas?) Foram dormir, ué."

Davi é um menino de cinco anos muito comunicativo que adora contar histórias. Conversei com ele e pedi que me contasse uma história, ele me disse que não sabia nenhuma história. Falei que poderia contar um passeio que tivesse feito, uma festa que participou, uma brincadeira,.... Ele disse que sabia uma história sobre a ovelhinha, então pedi que me contasse. Quando começou a história não parou mais e percebi que narrava com muita emoção, gesticulando cada cena.
Analisando sua história vejo que misturou a realidade, quando narrou uma história bíblica, falou de sua internação no hospital, com pneumonia, se colocou como personagem da história; e ficção quando falou do demônio, seu irmão voando, matou o demônio e correu pelo hospital.
Percebi a construção do discurso narrativo e uma troca de comunicação clara e imaginária, utilizando um repertório rico em ações, imagens, palavras, misturados com realidade e ficção. Elementos esses adquiridos desde os primeiros meses de vida, ao ouvir histórias dos pais, músicas, etc e utilizados até hoje através de suas narrações e descrições. Percebi também que utilizou relatos de experiências utilizadas em seu convívio pessoal como os textos literários. Como diz Gilka: “Ao ouvir histórias, a criança cria hipóteses sobre como se sentiria se estivesse frente aos mesmos dilemas e situações do personagem.” Digo isso porque notei que o menino é uma criança dócil, carinhosa e tranquila, características confirmadas pela professora, e não possui índole agressiva, ao narrar que matou o demônio. Essa ação narrada pelo garoto, com certeza, tirou dos desenhos que assiste na televisão.Fiz algumas intervenções na história contada pelo menino quando falou que seu irmão voava. Perguntei se ele voava de verdade. Ele respondeu que seu irmão era um anjo. Nesse momento houve incentivo da minha parte para exploração e enriquecimento do conto, acontecendo, conforme leitura realizada “jogo de contar.” Segundo Maria Vírginia, se referindo a postura do professor na contação de história: “O ideal é que ele seja um verdadeiro co-construtor das narrativas, incentivando a criança a avançar nos recursos que utiliza em suas construções.”

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1 Comments:

Blogger Beatriz said...

Que máximo!! Que riqueza de material para ser analisado. Um abração
Bea

12:26 PM  

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